segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Há dois amores, somente - Michel Quoist

Foto da Viviana

Por amor nós somos feitos - e para o Amor. Aqui 
na terra aprendemos  a amar. Ao morrermos passaremos o 
nosso exame sobre o amor.Se nos tivermos preparado bas-
tante,  iremos viver eternamente no Amor. Ora, aqui no mun-
do, cada vez que amamos a nós próprios (egoísmo) 
malbaratamos um pouco o nosso destino e o destino do Mun-
do. Há dois amores somente: O nosso amor próprio e o
 amor de Deus e dos outros.

«Ninguém pode servir a dois senhores : ou há-de odiar 
a um e amar o outro, ou se apegará a um e menosprezará o 
outro».
(Ev. de S. Mateus, 6:24)

Quem ama a seu irmão permanece na luz e não há nele
 motivo algum de queda. Mas quem odeia  o irmão está nas
 trevas, nas trevas caminha, não sabe aonde vai, porque as
 trevas cegaram-lhe os olhos.
 (Primeira carta de S. João, 2:10 e11)

Há dois amores somente, Senhor,
O amor de mim mesmo
E o amor de Ti e dos outros.
E, cada vez que me amo, é um pouco menos de amor por Ti
   e pelos outros.
È um esvaziamento do amor,
Uma perda de amor,
Pois o amor foi feito para sair de mim e voar para os outros; 
Cada vez que ele volta para mim, estiola, apodrece e morre.
O   amor de mim, Senhor, é um veneno que absorvo cada dia.
O   amor de mim escolhe a melhor parte e guarda o melhor   lugar.
O   amor de mim fala de mim - e faz me surdo à palavra do outro.
O   amor de mim afaga os meus sentidos  -  e rouba o alimento à mesa dos outros.
O   amor de mim prega as minhas ideias  -  -e desprza as dos outros
O   amor de mim considera-me virtuoso,  chama-me homem de bem.
O   amor de mim convida-me a ganhar dinheiro, a gastá-lo para meu prazer,
        e entesourá-lo para o meu futuro.
O   amor de mim aconselha-me a dar aos pobres para adormecer
         a minha consciência e viver em paz
O    amor de mim calça-me nos pés chinelos bem macios, e
         senta-me em poltona confortável.
O    amor de mim está contente comigo, adormece-me doce-
         mente.
O que é mais grave, Senhor, é que o amor de mim é um
      amor roubado.
Era destinado aos outros, alguém precisava dele para viver,
       para desabrochar  -  e fui eu que o desviei.
Assim o amor de mim faz o tormento humano.
Assim o amor dos homens a si mesmos faz a miséria humana,
Todas as misérias humanas.
Todos os sofrimentos humanos.
O sofrimento do miúdo em quem a mãe bateu sem ter razão
        e o do homem repreendido pelo patrão na presença dos
        operários.

O  sofrimento da rapariga feia deixada a um canto do salão
        de baile e o da esposa que o marido já não beija.
O   sofrimento da criança que deixam em casa porque atra-
          palha  e o do avô de quem a garotada ri e zomba porque
          está velho demais.
O   sofrimento do homem ansioso que não teve em quem con-
          fiar e o do adolescente inquieto cujo tormento foi ridi-
          cularizado.
O   sofrimento do homem desesperado que se atira ao rio e do
          bandido que vai ser guilhotinado.
O   sofrimento do desempregado que quisera trabalhar e o do
          trabalhador que gasta a sua saúde por um salário irri-
          sório.
O   sofrimento do pai que amontoa a família num quarto úni-
          co ao lado de um casarão vazio.
          e o da mãe cujos filhos estão com fome enquanto se
          deitam ao lixo os restos de um festim.
O   sofrimento do que morre sózinho, enquanto ao lado a
         família espera o desenlace bebendo cafézinhos...

Esta noite, eu te peço, Senhor,  que me ajudes a amar.

Faze, Senhor que eu derrame no Mundo o amor verdadeiro.
Faze que por mim e por Teus filhos ele penetre  um pouco
        em todos os meios, em todas as sociedades, todos os
        sistemas económicos e políticos, todas as leis, todos os
        contratos, todos os regulamentos.
Que ele penetre nos escritórios, nas fábricas, nos bairros, nos
        prédios, nos cinemas, nos bailes.
Que ele penetre no coração dos homens e não esqueça nun-
        ca que a luta por um mundo melhor é uma luta de amor.
        ao serviço do Amor.

Senhor,  ajuda-me a amar,
       a  não desperdiçar as minhas faculdades de amor.
       a amar-me cada vez menos para amar os outros cada
       vez mais.
Para que em volta de mim, ninguém sofra nem morra por
       haver eu roubado o amor de que precisava para viver.

Michel Quoist
 no livro - Poemas para orar
           

2 comentários:

Rosa disse...

Olá Viviana.

Lindo este poema.

Cheio de questões para respondermos e nos fazer meditar.



"Esta noite, eu te peço, Senhor, que me ajudes a amar"

Abraços Viviana.

Viviana disse...

Querida Rosa

Que homem, de alma tão grande e nobre!

Para mim, uma inspiração!

Um abraço,. boa amiga
Viviana