quarta-feira, 21 de julho de 2010

Vida e morte das nespereiras.





A nespereira "Messias" nasceu, cresceu, viveu e morreu, no jardim da casa da aldeia em Maceira - Pero Pinheiro.
Há uma história bonita acerca dela para contar.
Num belo dia, há mais de vinte anos, a "Nena," minha mãe, estava por ali á porta de casa, quando passou um jovem amigo dela chamado Messias, do Rebanque, que é uma pequena aldeia não muito distante dali.
O Messias era filho da "tia Gertrudes" que andava com uma burra por Maceira e arredores, a vender fruta que ela própria produzia nos seus pomares.
Nesse dia, quando passou á porta da Nena, o Messias ia a comer um punhado de nêsperas, que trouxera de casa. Ao ver a minha mãe, que era extremamente popular na aldeia e ali á volta, o Messias cumprimentou-a:«Bom dia senhora argentina! Como vai? Quer umas nêsperas que eu aqui tenho?»
A minha mãe respondeu á saudação e quanto ás nêsperas, disse-lhe: «Se você mas der! ...
Ele entrou no pátio e deu-lhe as nêsperas que ela comeu com enorme satisfação.
E como fazia com todos os caroços das frutas que comia, abriu um buraco no chão e deitou os caroços lá para dentro.
Quando vieram as primeiras chuvas fizeram germinar as sementes e logo apareceu uma pequenina nespereira que a mãe foi regando e cuidando, com carinho e paciência, até que começou a dar os primeiros frutos, que todos nós tanto apreciávamos.
Como todas as nêsperas oriundas de Portugal, eram saborosas mas um tanto ácidas. Eram óptimas para matar a sede e refrescar.
A nespereira cresceu tornando-se numa árvore grande que já ultrapassava o telhado da casa, de maneira que alguns troncos roçavam nas paredes da empena e de tanto bater, com o vento, que geralmente é forte por ali, abriu buracos na parede e começava também a levantar as telhas.
Todos os invernos eu lá ia podando alguns ramos e troncos de modo a evitar estragos. E a não incomodar as pessoas que passavam ali no caminho.
Entretanto a mãe partiu e nós, como sabíamos do seu carinho pela nespereira, sempre a estimámos e cuidámos o melhor que sabíamos.
Há uns três ou quatro anos a esta parte, os frutos foram atacados por uma praga, não sei qual...que definitivamente os destruia. Não se desenvolviam o suficiente e ficavam sem sumo, secos e pretos. Este ano bem andámos á volta dela, mas nem uma nêspera sequer provámos. Ficámos com imensa pena.

Já há algum tempo que a casa precisava de obras, e decidimos levá-las a cabo este ano. Estão agora a decorrer.
Para poder pintar a empena era preciso espaço; foi então que decidimos com bastante tristeza...cortar a nespereira "Messias".
Com ela, cortámos uma outra também doente, a que poderíamos chamar a nespereira "Viviana," pois fui eu que a semeei (o caroço é uma semente) a partir de umas nêsperas "estrangeiras", longas, doces e quase sem caroço, que eu comprei no Jumbo, em Alfragide.
Estava já quase tão grande como a outra que era mais velha.
Assim, de uma vez, lá se foram as nossas lindas e estimadas nespereiras...
Ah! mas eu e a minha irmã já decidimos que no próximo ano iremos semear outras, se Deus quiser.

6 comentários:

Anita disse...

Que o seu dia seja gostoso como chocolate, doce como algodão-doce, iluminado como a luz do sol, colorido como o arco-íris, alegre como as flores do campo e amável como a Viviana!

Sabe amiga o ano passado o meu marido deu um corte, mas um senhor corte, numa nespereira que já tem muitos anos, pois ela estava a ficar muito doente. Quando ele acabou de a cortar aquilo deu-nos uma tristeza, pois faltava aquela sombra que a nespereira nos dava, mas ao mesmo tempo também se acabou a sujidade das folhas, mas a verdade é que esta Primavera ela começou a desabrochar, e está mais bela do que antes, por isso Viviana por certo vocês irão ter uma nespereira mais bela do que a que estava antes.

Amiga passando para lhe desejar um maravilhoso dia.
Beijinhos.
Fique bem. Fique com Deus.
Anita (amor fraternal)

Pedro Leal disse...

"Tudo tem o seu tempo", como diria a avó.
Agora. a próxima que plantarem tem que ter também uma história por trás. Dá outro sabor aos frutos...

Fernanda Rocha Mesquita disse...

Bom dia Viviana, obrigado pela sua visita e por ler e saber ler mesmo nas entrelinhas. Isso sente-se pela veracidade dos comentarios. Essa arvore nao morreu, pois as raizes dela ganharam lugar no vosso coracao. Ao ler a historia dessa arvore me fez mais uma vez confirmar a sensacao de que quando olho uma arvore sempre sinto que ela contem uma historia, nem que seja a historia de quem a plantou, como no caso da vossa mae. Esta historia faz parte das historia rica da humanidade e que tanto se desconhece. Acredite que traz dentro de si verdadeiros tesouros ao conseguir sentir as coisas assim. Beijinhos e muitas muitas alegrias e que as continue a sentir assim dessa forma palpitante. Eu tambem sinto a vida assim e por isso as vezes sentimos uma pontinha de tristeza por tao pouca gente sentir assim.

Fernanda Rocha Mesquita disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernanda Rocha Mesquita disse...

Desculpe Viviana mas o comentario tinha ido repetido por isso anulei um.

Unknown disse...

As árvores também se abatem.


Beijo.